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Bairros de João Pessoa dominados pelo medo

jampa2010Aqui até que está um pouco tranquilo agora… (uma pausa na fala). Espera que eu não posso falar muito porque vem uma turma da pesada ali, minha filha. O trecho faz parte da conversa com uma moradora do Renascer II, que está entre as áreas mais perigosas da Grande João Pessoa. O bairro, localizado em Cabedelo, faz parte da lista das comunidades onde até a polícia tem resistência para entrar. O domínio é do crime. Pontos de bairros como Mandacaru, Cruz das Armas, Róger, Jardim Veneza, Bairro dos Novais, Grotão, além de áreas como Salinas Ribamar e Renascer, em Cabedelo, são consideradas de intensos conflitos entre criminosos.
O número de locais onde o tráfico de drogas impera é alto, embora os casos nem sempre venham à tona. Pela citação da comerciante, descrita acima, é possível notar que o medo dos moradores os faz maquiar uma situação de terror, vivenciada por eles nessas localidades tomadas pelos crimininosos. Ela mora no conjunto Renascer II, vizinho à comunidade que ficou conhecida pela atuação do adolescente Xapola, que aterrorizava o Renascer III com as ações intimidatórias que atingiam não apenas as gangues rivais, mas toda a população e até a própria polícia.
Existem comunidades em João Pessoa onde profissionais como médicos, professores e carteiros, serviços essenciais à população, são tão intimidados pelos bandidos, a ponto de desistirem de trabalhar. Os assaltos constantes, tiroteios e toques de recolher são motivos de medo. Outra categoria que teme as investidas dos bandidos é a dos entregadores de mercadorias, chamados motoboys.
Exemplo claro do recuo causado pela violência pode ser verificado em Mandacaru. Uma moradora contou que tem sido difícil comprar medicamentos pelo serviço de entrega em domicílio nas farmácias situadas em bairros como Ipês e dos Estados. “Os atendentes perguntam se a residência fica antes ou após a linha do trem. Se a localização for depois da linha, eles se negam a fazer a entrega após às quatro horas da tarde, devido ao grande número de assaltos na área, segundo justificam”, afirmou.
Até os carteiros, que geralmente contam com acesso livre em todos os locais, têm receio de trabalhar em determinadas comunidades de João Pessoa. “Dois carteiros sofreram ameaça de bandidos no ano passado no Jardim Veneza, pelas informações que tenho. Há ocorrências também em bairros como Mandacaru, Grotão e Bairro dos Novais. Quando é necessário, acionamos a polícia para nos dar assistência nas regiões mais complicadas”, informou o secretáriogeral do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos, Emanuel de Souza Santos.
Alguns professores, antes mesmo de começar a lecionar, ao tomarem conhecimento do local onde fica a escola para onde foram lotados, desistem ou pedem transferência para um outro colégio. A diretora de uma escola localizada num bairro crítico de João Pessoa, que preferiu não ter o nome revelado, lembra que um dos funcionários se negou a ensinar na unidade, por causa do medo. Também com receio, a educadora pediu para que citasse na reportagem que a escola tinha uma boa relação com a comunidade.
Quem já trabalha, sofre com as retaliações dos chefes do crime. “Os traficantes pedem para se abrigar por trás da escola. A gente não tem o que fazer. Mas, temos uma relação tranquila com eles, porque, afinal, fazem parte da comunidade”, confessa a diretora.
Aqueles que aceitaram mostrar o rosto ao falar sobre a violência, fizeram com cautela, por temerem pela segurança. A diretora da escola municipal Arnaldo de Barros, no bairro dos Novais, Rosinete Alves de Noronha disse que a aflição é constante por parte de funcionários e alunos. Para se ter uma ideia, o alunado do turno da noite aingiu cerca de 50% de evasão. Os estudantes desistem com medo de transitar pelas ruas no horário em que acabam as aulas.
“Os alunos dizem que tem um horário estabelecido para entrar na rua da favela. Quando dá 9 horas da noite, a impaciência toma conta deles, querem ir logo para casa. Tem dias que eles chegam a avisar aos professores, da possível ocorrência de tiroteio na localidade e precisam sair mais cedo”, detalha, referindo-se à comunidade Bola na Rede, onde o toque de recolher acontece às 21h. Assim, os estudantes que moram na comunidade precisam deixar a escola antes desse horário. A programação curricular da noite foi toda alterada, para se encaixar na rotina dos alunos.
Por outro lado, os professores também sentem o clima de insegurança dos locais onde a criminalidade domina. Rosinete informou ainda, que todos os funcionários da escola, ao término do expediente à noite, tomam o cuidado de sairem em grupo ou solicitam carona àqueles que possuem automóvel. “Nunca saem sozinhos, para evitar serem assaltados ou abordados de alguma forma pelos bandidos”. Nas imediações do colégio João XXIII está a comunidade Bola na Rede e o alunado, sendo que parte dele é morador da favela, sofre com a violência instalada no local. Uma funcionária da escola, ao afirmar que a região era crítica, aconselhou a equipe de reportagem a não passar por dentro da favela. “Se ‘emburacar’, não sai ileso. É muito perigoso, muito arriscado”.

FONTE: Redação – Jornal da PB

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