Você está aqui
Home > 2010 ARQUIVO HISTÓRICO > SEM MEDO DE ERRAR

SEM MEDO DE ERRAR


Ricardo Brizola Balestreri tem 52 anos, formação em história e é o atual secretário nacional de Segurança Publica. Egresso do movimento pelos direitos humanos, Balestreri não tem nenhum temor em defender suas idéias sobre segurança pública, mesmo diante de interesses corporativos.

Na tarde desta quarta-feira, 15, o secretário nacional de Segurança Pública foi aplaudido de pé depois de uma palestra de mais de 1 hora para mais de 100 policiais federais eleitos para representar a categoria no Conapef. Há mais de 20 anos militando na área de segurança pública, Ricardo Balestreri não perdeu a disposição de dialogar e acredita que aos poucos a cultura que emperra as mudanças na estrutura da segurança do país vai se transformar.

Segundo ele, o que está por trás da resistência de setores das polícias em discutir o IPL ou ciclo completo de polícia é o temor pela perda do poder. “O inquérito policial é um instrumento de poder e alguns delegados, não são todos, têm medo de perder esse poder”.

O secretário nacional de Segurança Pública classificou de tragédia o que aconteceu na segurança do país. “Tiraram bons policiais dos processos de apuração dos crimes e colocaram dentro de cartórios fazendo registros o dia inteiro. Papeis que não servirão para nada”, disse. O resultado é a baixa taxa de resolução de crimes. “Em alguns estados a taxa de solução de homicídios é de 10%”, frisou.

Mas, mesmo com a identificação do problema, não é fácil mudar. Para o secretário, os cartórios, assim como os inquéritos policiais, se transformaram em instrumentos de poder. Junte-se a esse quadro a falta de um ciclo completo de polícia e o processo de segurança pública será ineficiente e com péssimos serviços prestados à sociedade. “Hoje temos no Brasil duas meias polícias e esse sistema, que é encontrado só no nosso país, não funciona”.

Para o secretário o ciclo completo de polícia pode libertar os policiais para realizar seu trabalho de forma completa. “Se essa transformação não acontecer até a próxima década a situação irá se agravar ainda mais”, disse.

Balestreri também criticou a falta de diálogo de algumas categorias em relação a temas importantes para a modernização do sistema de segurança. Para ele, um dos fatores que levam a este quadro é o bacharelismo impregnado nas polícias. “No Brasil se convencionou que autoridade policial é delegado (bacharel em direito) e isso é um escândalo. É preciso reconhecer que qualquer policial é uma autoridade”.

No final de sua palestra Ricardo Brizola Balestreri elogiou a Federação Nacional dos Policiais Federais. “A Fenapef está alguns patamares acima porque é uma entidade que debate publicamente, não só temas corporativos, mas assuntos de interesse da sociedade e da segurança pública”. Para ele isso revela coragem dos policiais e compromisso com o país.
Balestreri deixou o plenário do Conapef depois das 7 da noite, segundo ele, com baterias renovadas. Para trás deixou uma certeza: muitos até podem não concordar com ele, mas é um homem que defende suas idéias com coragem e sem medo de contrariar interesses.

Fonte: Agência Fenapef

Top