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POLICIAIS TRABALHAM COM ARMAS PRÓPRIAS

 

A retomada do debate sobre o desarmamento levou a sociedade a questionar mais uma vez a facilidade com que bandidos têm acesso a armas para realização de crimes. Somente nos 20 primeiros dias do ano, as polícias Civil e Militar apreenderam 121 armas de fogo no estado da Paraíba. Mas, na discussão sobre o tema, uma realidade surge e preocupa: policiais civis e militares paraibanos estão tendo de comprar armamento, algumas vezes de forma ilegal, para compensar a falta de armas do estado ou o sucateamento delas. A informação é confirmada pelos próprios policiais e ratificada pelos sindicatos da categoria. No acesso ao mercado negro das armas, a corrupção aparece e envolve agentes do estado no abastecimento do crime organizado.

fig05p2011Secretaria reconhece insuficiência de armamento para efetivo do estado. Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press.

Na Polícia Militar a situação chega a ser mais preocupante. Os revólveres que são entregues aos policiais não sem comparam, nem de longe, ao armamento encontrado com bandidos durante operações. No interior então, onde quadrilhas especializadas em assaltos a bancos têm agido com uso de pistola, fuzis e até metralhadoras, os revólveres dos soldados são obrigados a se esconder para preservar a própria vida. Na Polícia Civil, a qualidade das armas entregues – geralmente pistolas – tem melhorado, mas a categoria se depara com outro problema. “Geralmente as pistolas entregues não são tão boas, e a gente tem de ter um backup (uma arma reserva) para em caso da primeira falhar o policial não ficar refém. Mas a secretaria não tem ajudado nisso. Aí o policial se vê obrigado a comprar outra arma melhor, por questão de segurança mesmo”, conta um agente de investigação.

Nas delegacias da capital o uso de armas pessoais no trabalho não é mais novidade. Virou coisa comum. “Todo mundo conhece essa situação. Faltam armas melhores e em alguns casos até munição. Para garantir sua segurança o policial tem de se virar e tirar (dinheiro) do próprio bolso para ter uma arma melhor para trabalhar. Afinal estamos em risco todo dia no combate à criminalidade”, ressalta o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado da Paraíba (SSPC/PB), Antônio Erivaldo Henrique de Souza. O Coronel Francisco de Assis, presidente do Clube dos Oficiais da Polícia Militar, destaca que na corporação o uso de armas pessoais acontece porque muitos dos revólveres disponibilizados pela secretaria são antigos e não possuem uma maior precisão, deixando as equipes em desvantagem numa situação de confronto. “Primeiro que a quantidade (de armas) não supre a necessidade e depois porque há muitos revólveres antigos, enquanto os bandidos agem com armamento mais pesado”, comentou.

O perigo da ilegalidade

A burocracia na compra legal de armas ou mesmo o alto preço vão de encontro à necessidade urgente de muitos agentes que pensam em adquirir um revólver ou pistola para compensar a falha do estado. Em situações assim, alguns chegam a entrar em contato com o mercado negro para fazer a aquisição. Um policil civil ouvido pela reportagem confirmou casos assim, mas destacou que muitos evitam ao máximo esse contato, para evitar problemas posteriores. “Geralmente o policial tenta comprar pela forma legal, arma registrada e tudo. Mas em alguns casos, há uma demora que chega até seis meses para conseguir o armamento, além do preço, incompatível com a renda mensal do colega. Já tomei conhecimento de amigos da polícia que compraram arma sem registro para resolver logo a necessidade. Isso é perigoso”, explica o policial.

O sindicato da categoria desconhece situações desse tipo e explica que, caso ocorram, a prática é reprovável. “O que temos conhecimento é da compra com dinheiro próprio, mas todas feitas de acordo com o que autoriza a lei. Se isso acontecer, a pessoa não está agindo corretamente”, comenta Antônio Erivaldo.

Estado prepara compra

O secretário de estado da Segurança Pública e Defesa Social, Cláudio Lima, disse que já havia tomado conhecimento da compra de armas por parte de policiais civis e militares para uso durante o trabalho e que a secretaria já começou a planejar uma forma de combater essa prática. Para evitar casos desse tipo o secretário anunciou que já foi aberta uma licitação para compra de 2 mil armas para o efetivo das polícias civil e militar do estado. A compra nessa quantidade daria para beneficiar boa parte do efetivo. “Já tinhamos conhecimento dessa situação, mas estamos tratando comprar 2 mil armas para inibir coisas desse tipo”, comentou o secretário.

Cláudio Lima tem ressaltado que a situação financeira do estado tem dificultado ações pretendidas para melhorar o quadro da segurança pública dos paraibanos.

Fonte:
Arthur Araújo
Jornal O Norte

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