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“IPC está um caco e Ciop um chiqueiro”

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GOMINHO - 2009“O que eu vi até agora foi um desmantelo total… O IPC está um ‘caco’. O Ciop é um verdadeiro chiqueiro! Dá pena ver os policiais trabalhando naquelas condições! Encontrei uma Corregedoria inoperante. Há muita coisa sucateada! O melhor que encontrei aqui foi o efetivo humano. Vejo um bocado de gente querendo trabalhar, mas que não tem estímulo”. Esse foi o diagnóstico feito pelo novo secretário Gustavo Ferraz Gominho sobre a situação da segurança pública na Paraíba.
Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Gominho denunciou situações criadas pela gestão anterior, que considera absurdas. Ele falou do racionamento de combustível, que obriga a polícia a trabalhar com hora marcada; da utilização de viaturas novas por servidores para fins particulares e da existência de funcionários “fantasmas”. O novo secretário reconheceu a existência de grupos de extermínio atuando no Estado.
Aos 57 anos, o delegado da Polícia Federal (agora a serviço do Estado) se depara com alguns dos maiores desafios de sua carreira: resgatar a credibilidade da polícia junto à sociedade e criar políticas públicas capazes de combater a criminalidade e o aumento da violência, garantindo aos paraibanos o direito à segurança preconizado na Constituição Federal há mais de 20 anos.
O policial federal que já subiu o Dona Marta (morro carioca que foi ocupado pelo Comando Vermelho, a principal facção criminosa do Rio de Janeiro) para investigar traficantes ingressou na carreira policial em 1975 como agente, no município de Manaus (AM). Em 1981, graduou-se em Direito pela Universidade Federal do Amazonas e, dois anos depois, tornou-se delegado da PF de Porto Velho, em Rondônia. Lá, ele chefiou a delegacia especializada no combate a entorpecentes. O atual secretário de Segurança da Paraíba também foi superintendente e corregedor da PF em outros estados. Entre 1988 e 2006, atuou na Polícia Federal da Paraíba em diversas delegacias especializadas. Foi corregedor e superintendente do órgão, em João Pessoa.
O secretário de Segurança Pública da Paraíba, Gustavo Ferraz Gominho, também antecipou alguns dos projetos que irá desenvolver nos próximos meses, como o patrulhamento escolar móvel, o mapeamento dos locais mais vulneráveis à criminalidade e a criação de um Grupo Especial de Captura (para prender os foragidos da polícia). Ele contou que o maior desafio que tem pela frente é construir uma relação de confiança entre a polícia, a sociedade e o Judiciário e defendeu: “Tem polícia quem pode e segurança é caro, mas traz resultados e compensa, porque, amanhã, você poderá sair de casa com a certeza de que vai voltar”.

“Sempre existiram grupos de extermínio”

Qual a herança que recebeu do governo anterior?
– Após tomar posse, pedi a todo os auxiliares – ao comandante da Polícia Militar, ao comandante do Corpo de Bombeiros, ao delegado-geral da Polícia Civil, ao diretor do Instituto de Polícia Criminalística (IPC) – para que, até o dia 15 de abril, eles me dissessem o que têm em termos de efetivo, de equipamentos, quais são as deficiências, o que deve ser resolvido em caráter emergencial e a médio e longo prazos. Estamos fazendo esse diagnóstico. Só sei que o que eu vi até agora foi um desmantelo total. O Ciop (Centro Integrado de Operações Policiais), por exemplo, é um verdadeiro chiqueiro! Dá pena ver os policiais trabalhando naquelas condições.
– Quais os principais problemas da Secretaria de Segurança e Defesa Social?
– Encontrei muitos problemas aqui e casos absurdos. Os carros de polícia, por exemplo, só podiam abastecer até às 18h. Já viu isso? A polícia com hora marcada? Quer dizer que, se houver uma necessidade, a polícia não pode chegar junto. É a mesma coisa que você dizer que uma ambulância só pode sair até às 20h. Se uma pessoa tiver um infarto às 21h, morre?! Não se faz segurança pública desse jeito! Encontrei, por exemplo, limitação de combustível de 20 litros por dia para cada viatura. Ou seja, andou um pouquinho, para. A polícia está correndo atrás do bandido e, se falta gasolina, tem que parar. O bandido vai embora e a polícia fica. Encontrei ordens de que não se pode pagar diária por mais de dez dias ao mês a um servidor, mesmo o policial. Quer dizer que se o policial recebe uma missão para investigar e prender um elemento no Sertão ou ele prende em dez dias ou ele volta e o bandido foge. Já conversei com o governador e vamos alterar isso imediatamente. Já mandei revogar tudo, porque não entendo polícia desse jeito.
– Já foi denunciada, diversas vezes, a carência de viaturas, sobretudo no Interior. O senhor constatou esse problema?
– Há uma série de problemas na secretaria. Encontramos uma Corregedoria de Polícia inoperante e viaturas locadas que foram desviadas de função. Já mandei levantar o número de viaturas desviadas. Há servidores usando as melhores viaturas para uso particular, enquanto os policiais com atividade-fim estão com os piores carros. Mas, também encontrei coisas boas como a Gintel (Gerência de Inteligência), que tem boas instalações, equipamentos e pessoal treinado. Não só foi herança ruim. Verifiquei que os policiais estavam apenas desmotivados e não estavam produzindo por falta de motivação. Hoje, eles já estão demonstrando que querem trabalhar. O pessoal é capaz, é profissional e é responsável, tanto da Polícia Civil como da Polícia Militar. É claro que há exceções, como em todo o lugar. O melhor que encontrei aqui foi o efetivo humano, mas em termos de estrutura e equipamento está tudo ruim. Há muita coisa sucateada! Vejo um bocado de gente querendo trabalhar, mas que não tem estímulo.
– Qual o maior desafio da Secretaria?
– O maior desafio é recuperar a credibilidade da polícia perante a sociedade. Essa vai ser a nossa meta: fazer com que a polícia seja acreditada, admirada, respeitada, inclusive pelos demais poderes como o Judiciário, o Legislativo e os nossos parceiros do próprio Executivo.
– O que será feito para que isso aconteça?
– Fui convidado para ser secretário de segurança há muito tempo e estava na expectativa da decisão do Tribunal Superior Eleitoral. De comum acordo com o governador José Maranhão, nós já havíamos escolhido também o secretário-executivo que é o Coronel Cordeiro e ele teve uma longa carreira como policial militar, também é bacharel em Direito e um estudioso da segurança pública. Ele já tinha vários trabalhos feitos e eu também já tinha tido vários trabalhos apresentados no Conselho de Segurança do Nordeste, onde participava como superintendente da Polícia Federal do Maranhão. Como sabíamos que a qualquer momento assumiríamos, nos reuníamos todos os dias para discutir projetos e ações em segurança pública. Não gostaria de revelar todos os projetos porque alguns ainda são sonhos. Vou levar projetos à Senasp, onde já conto com o apoio irrestrito do diretor geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Correia, que também foi por quase cinco anos secretário nacional de segurança pública.
– A parceria com o Governo Federal será estratégica nesse momento?
– Já tomei a decisão de fazer funcionar um setor na Secretaria que será responsável em criar projetos que estejam afinados com a filosofia da Senasp. O objetivo é firmar convênios para aumentar os recursos da secretaria. Hoje, segurança pública não se faz sem dinheiro. Segurança pública é uma coisa cara. Se você mandar fazer um estudo, você vai verificar que a sociedade paga mais à segurança privada do que às forças estatais (pagamento de impostos). Por isso, os estados pobres e até os de maior poder aquisitivo como São Paulo, por exemplo, não conseguem fazer segurança pública sem o apoio do Governo Federal. Nesse aspecto, o Governo Lula tem disponibilizado, cada vez mais, recursos aos estados federados, mediante a aprovação de projetos elaborados pelas secretarias de segurança e muitos desses projetos são a custo zero para os estados. Pretendo apresentar projetos à Senasp para aumentar os recursos que terei disponível para comprar, por exemplo, viaturas, armamento, fardamento, para fazer um Ciop decente. Para você ter idéia, o Ciop funciona com apenas 16 linhas telefônicas. Vamos fazer um estudo para saber quantas linhas são necessárias, mas o fato é que você liga para o 190 e quase sempre dá ocupado porque essas 16 linhas não são suficientes para atender a toda a população. Não vamos fazer nada mirabolante. Vamos fazer algo dentro das condições do Estado.
– Quais os principais projetos que pretende desenvolver?
– Há vários projetos. Já está decidido que vamos fazer o patrulhamento escolar porque o custo dessa ação é baixo e o resultado é alto e não depende de lei. Vamos fazer a patrulha escolar móvel. O projeto que considero a menina dos olhos é a criação do Grupo Especial de Capturas, que foi aprovado por unanimidade no Conselho de Segurança do Nordeste e, que eu saiba, apenas Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco possuem. Esse projeto depende de alterações, de normas legislativas e regulamentares e, por isso, não vai ser implementado de imediato. Vamos elaborar uma minuta de projeto de lei para ser apresentado na Assembléia Legislativa. Se você pegar as estatísticas, vai verificar que, de cada 100 homicídios, só cinco ou dez são eventuais – ou seja praticados por criminosos em momento de emoção, por briga, rixa, etc. o restante são mortes ocasionadas em assaltos, pistolagem, tráfico de drogas, ou seja, são mortes que estão relacionadas a outros crimes.
– Como funcionará o Grupo Especial de Capturas?
– O que ocorre hoje é que, regra geral, a polícia faz uma investigação, identifica que o autor do crime está foragido, pede a prisão preventiva ao juiz, que a decreta e o policial pega o mandado de prisão, joga-o dentro de uma pasta, numa prateleira e ninguém vai atrás do cara (criminoso). O Grupo Especial de Capturas não vai investigar a autoria do crime e sim o paradeiro desse bandido. Não vamos prender todas as pessoas que têm mandado de prisão em aberto, até porque se eu fizesse isso, o (estádio) Almeidão e o Amigão não comportariam. É muita gente! Na Polícia Federal, deve haver uns 300 mil mandados de prisão para serem cumpridos, em todo o País. Evidentemente, o número de paraibanos com mandados de prisão em aberto é muito menor, mas não temos esse dado.
– Há vários lugares em João Pessoa e na Grande João Pessoa que são controlados pela criminalidade. Nesses locais, taxistas e algumas distribuidoras de alimentos não entram com medo de assaltos. Há algum mapeamento dessa situação? O que será feito em relação a esse problema?
– Um dos nossos projetos é fazer um mapeamento dos pontos críticos. Isso não é novidade e já existe em outros Estados, como Pernambuco. Inclusive, o secretário de segurança pública de Pernambuco já me convidou para conversarmos sobre os projetos desenvolvidos lá para que possamos adaptá-los à realidade da Paraíba e apresentá-los à Senasp. A grande diferença é que a polícia da Paraíba entra em qualquer lugar, ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro, por exemplo, onde o tráfico de drogas dominou os morros. Já determinei ao coronel Cordeiro e já chamamos a coordenadora do Ciop para fazer um levantamento de onde ocorrem mais crimes na área de João Pessoa, Grande João Pessoa e outros pontos críticos do Estado. Vamos reforçar o policiamento nesses locais e fazer presentes tropas, inclusive das polícias especiais como o Gate (Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar) e o GOE (Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil). Já há um levantamento preliminar desses pontos, mas ainda há muito que fazer porque não havia nada feito aqui. Há muita coisa para definir na secretaria. Não escolhemos ainda os nomes dos comandantes dos batalhões.
– No início do ano, tivemos o assassinato do advogado e militante dos direitos humanos Manoel Matos, que trouxe à tona a discussão sobre os grupos de extermínio, alvo de CPI no Congresso. O senhor reconhece a existência de grupos de extermínio atuando na Paraíba?
– Os grupos de extermínio sempre existiram e é difícil acabar com eles. Para acabar é preciso um trabalho integrado, principalmente porque eles atuam em uma região de fronteira (Itambé/PE, Pedras de Fogo e Pitimbu, na Paraíba). A proposta que recebi da direção geral da PF, em função dessa mudança de governo, é de que seja feito um trabalho de inteligência e de operação policial com as polícias federais da Paraíba e de Pernambuco e com as secretarias de segurança dos dois Estados. Será um trabalho conjunto. Concordei e só falta o sinal verde dos dois governadores. Todo mundo sabe que existem grupos de extermínio, o problema é saber as motivações e os mandantes dos homicídios. Em certo ponto o deputado Luiz Couto tem toda a razão. A CPI dos grupos de extermínio comprovou isso (a existência desses grupos). O que não posso afirmar hoje é se a morte de Manoel Matos está diretamente ligada a esse problema. As investigações ainda estão em curso e o delegado Walter Brandão, que está apurando o fato, ficou de me entregar um relatório sobre o andamento das investigações. Vou examinar esse relatório para dizer até que ponto o caso está esclarecido ou não.


“Quem fortalece o traficante é o usuário”

– O que será feito para combater o tráfico de drogas?
– O principal motivo que fortalece o traficante é o usuário. Se não há quem compre a droga, não há quem venda. Nenhum usuário denuncia o traficante, primeiro porque ele quer comprar a droga e segundo porque ele tem medo de denunciar e, no outro dia, amanhecer com a boca cheia de formiga. Por isso, a investigação depende de um trabalho de inteligência, que se dá através de informantes e de escuta telefônica. Se ficarmos preocupados, por exemplo, com aquele pessoal que fica na rua fumando um ou dois cigarros (de maconha), iremos perder tempo. Temos um efetivo de policiais extremamente reduzido e se eles atuarem só contra quem fuma o cigarrinho ou cheira o loló, a polícia passa a combater apenas o varejo. Os grandes traficantes, os atravessadores, os transportadores, os plantadores, aqueles que atuam no atacado, ficam numa boa. A gente combate o tráfico de drogas com inteligência e otimizando os recursos que temos; fazendo um trabalho de investigação em cima dos atacadistas, daqueles que estão trazendo as drogas para cá.
– Por que é tão difícil combater o tráfico de drogas?
– A dificuldade maior de se combater esse tipo de crime é o problema da relação de confiança que deve existir entre a polícia, o Judiciário e o Ministério Público. Em alguns casos, o Judiciário não autoriza pedidos que nós fazemos e algumas vezes, isso acontece por culpa da própria polícia que não se faz acreditar, não gera essa relação de confiança com o Judiciário. Às vezes, o juiz tem até boa vontade de atender ao pedido, mas não confia na pessoa que está pedindo. A Legislação hoje é muito favorável ao combate à droga. Quando entrei na PF era tudo na cara e na coragem. Hoje, há a escuta telefônica, a entrega controlada, a infiltração e várias maneiras de combater o tráfico de drogas de forma legal e consciente. Para isso, tem que se estabelecer uma relação de confiança entre a autoridade policial e o juiz e isso é que tem que ser construído na Paraíba. A Polícia Federal normalmente não tem essa dificuldade porque os juízes acreditam no trabalho dessa polícia. O que discuti com alguns delegados é que temos que conquistar a confiança do Judiciário. Outra coisa que dificulta é que, antigamente, até a Constituição de 1988 o mandado de busca e apreensão era emitido pela própria autoridade policial. As drogas passam muito rapidamente pelos ‘mocós’, os lugares onde a droga é escondida. Então, quando recebíamos a notícia de que determinado domicílio podia ter droga, fazíamos o mandado na mesma hora. Hoje, isso é mais burocrático. É preciso a autorização do juiz, que às vezes pede vista do Ministério Público. Quando deferem o pedido e a polícia vai ao local, a droga já não está mais lá. A burocracia atrapalha bastante o combate ao entorpecente. Mas, desde que você crie uma relação de confiança com o juiz, isso pode ser superado. Vou investir na relação de credibilidade entre a polícia e o Judiciário. Vou mostrar ao Judiciário que a polícia civil é tão competente quanto a Polícia Federal, que tem gente honesta, que é responsável e quer trabalhar.
– Um dos crimes que vem aumentando muito na Capital é a “saidinha de banco”. O que será feito para enfrentar esse problema?
– Esse é um crime contra o patrimônio que deve ser investigado pela delegacia especializada. Em princípio, a determinação do secretário anterior (de que os delegados distritais devem encaminhar as ocorrências à Gintel) será mantida, porque para combater esse tipo de crime, é preciso identificar as quadrilhas que estão atuando e isso requer um trabalho de coleta de informações. É um trabalho de inteligência e por isso, os casos devem ser encaminhados à Gintel para que se faça a análise para saber se essas ocorrências são conexas, se há um grupo criminoso ou mais de um fazendo isso. A Gintel possui três grupos: o de inteligência, que propriamente investiga os casos e vai atrás de coletas de informações; o de análise, que junta todas as informações coletadas para dar uma idéia lógica e montar o quebra-cabeça; e o de contra-inteligência, que é uma operação feita contra o pessoal interno, contra um policial corrupto, por exemplo. Outros estados investiram em investigação e em inteligência para combater o problema porque eles atuam em grupos e o principal instrumento usado é o celular.
– Os delegados das distritais têm recorrido à Gerência de Inteligência?
– Hoje, fiz uma visita à Gintel, porque recebi a informação de que a gerência está sendo subutilizada. Cabe à autoridade que está investigando, solicitar às autorizações judiciais para a escuta telefônica que será feita e analisada pela Gintel. Por enquanto, está mantida a decisão da administração anterior e vou avaliar como vou direcionar isso. Verei quais são as deficiências das investigações e se houver deficiências, avaliarei como supri-las para que o problema diminua.
– O que as agências bancárias e a população podem fazer para ajudar no combate a esse tipo de crime?
Os bancos já são submetidos a uma legislação rigorosa, no que diz respeito à segurança e eles colaboram com as investigações, entregando as fitas das câmeras de segurança, desde que seja solicitado pelo delegado. A decisão de sair com dinheiro em espécie é do cliente. Andar com dinheiro no bolso é um risco. As pessoas que precisam sacar um grande valor de dinheiro têm que tomar cuidado. Elas podem ligar para o gerente e agendar para que o dinheiro seja retirado da tesouraria do banco e não receber na boca do caixa.

“Delegacias não têm viatura e nem uma bicicleta”

– Os policiais que atuam no serviço de inteligência estão capacitados?
– Verifiquei que, realmente, o ‘Sistema Guardião’ da Gintel está sendo pouco utilizado e que vários funcionários não foram capacitados, não têm cursos. O ‘Sistema Guardião’ é o principal instrumento usado para fazer grampos e para combater o crime organizado. Ele permite gravar, simultaneamente, 360 conversas. Então, posso grampear, ao mesmo tempo, 720 pessoas conversando. Só que o nosso equipamento não está usando nem em 10% de sua capacidade por falta de demanda das descentralizadas que não estão acionando o Gintel. Já tive um contato com um delegado da Polícia Federal que gerencia, em âmbito nacional, os cursos de capacitação patrocinados pelo Governo Federal e pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ficou de vir a João Pessoa para conversar comigo e dizer todos os cursos disponíveis no Brasil e no exterior a custo zero para a Paraíba. A capacitação desses servidores será paga pelo Governo Federal e pela ONU. Já solicitei um levantamento sobre a carência de cursos de capacitação existente na Secretaria. Descobri que, por exemplo, uma Polícia Civil como a nossa não dispõe de um canil de cães farejadores e uma das minhas metas é implantar um canil na Polícia Civil.
Estamos pensando em construir o canil na Acadepol e os filhotes serão conseguidos através de uma parceria com o Canil Central da Polícia Federal. Já solicitei um levantamento para saber quais são os policiais civis que têm interesse de trabalhar com isso.
– Um relatório do Ministério Público revelou que é precária a situação das delegacias de polícia de João Pessoa. No Interior, a situação é pior e a falta de estrutura acaba por comprometer as investigações e a coleta de provas, o que colabora com o arquivamento dos casos e com a impunidade dos criminosos. O que será feito para garantir aos policiais condições dignas de trabalho?
– De fato, há delegacias no Interior que não têm sequer uma máquina fotográfica; tem várias que não têm viaturas e nem uma bicicleta; tem várias que não têm uma máquina de escrever. A falha na coleta de provas de fato existe. Tem polícia quem pode e segurança é cara. Só aceitei assumir o cargo de secretário de segurança porque, na primeira conversa que tive com o governador José Maranhão, ele me garantiu que iria dar prioridade absoluta à secretaria de segurança. Se não tivesse confiança nele, não estaria aqui. Estou aqui, porque gosto do que faço. Nunca perguntei quanto ganha um secretário.
Tomei conhecimento de que várias delegacias do Interior tinham deficiência de viaturas. Mandei fazer um levantamento em João Pessoa e encontrei excesso de viaturas em alguns setores burocráticos da Secretaria e da Polícia Civil e isso também deve estar acontecendo em Campina Grande. Determinei ao coronel Cordeiro que fizesse um levantamento das carências dessas viaturas no Interior para que façamos a redistribuição dos veículos para as áreas carentes.
É comum a população falar em impunidade e jogar a culpa na polícia. O problema é que é preciso que nossos parlamentares façam uma reforma real no Código de Processo Penal. Hoje, a impunidade também ocorre devido à infinidade de recursos. Recentemente, o Supremo tomou a decisão de que, se o caso não for transitado em julgado, inclusive, na Suprema Corte, a pessoa pode responder em liberdade. Nos Estados Unidos, são poucos os casos que chegam à Suprema Corte! Aqui, o Supremo está abarrotado de processos. Em outras nações, você só recorre uma vez. A impunidade não se deve à polícia e sim ao sistema legislativo brasileiro.

“Não vou admitir desvio de conduta”

– A relação do governo anterior com os delegados de polícia e com os policiais civis e militares foi bastante conturbada. Como será a relação da Seds com os policiais?
– Como posso iniciar uma conversação dizendo: ‘estão ganhando pouco? Estudem e vão ser procuradores da Justiça!’? Como você quer que um policial que ganha pouco mais de R$ 1 mil troque tiro com bandido, corra risco de morrer, deixe viúva e filhos, enquanto outros arranjam um emprego ganhando o dobro ou triplo e nem sequer comparecem ao trabalho? Isso ocorria aqui. Havia uma delegada que morava na Bahia e recebia como se estivesse trabalhando. Vou lutar para melhorar os salários dos policiais. Estou secretário de segurança, mas sou policial e essa condição ninguém me tira! Sei o que é trabalhar na polícia. Fui agente, trabalhei em plantões, passei vários dias na selva sem comer. Sei o que é isso e faço isso por amor. Quero motivar o policial. Já nos reunimos com os delegados para ouvir as reivindicações da categoria. Já solucionamos os problemas administrativos e estamos estudando uma proposta para atender à reivindicação salarial.
– A gestão anterior realizou concursos públicos para delegados e aumentou o efetivo das polícias militares e civis. Há previsão de mais concursos públicos?
– Dou a César o que é de César e se há alguma coisa que o governo passado fez de bom foi aumentar o efetivo das polícias Civil e Militar. Mesmo com esse aumento – que foi substancial – ainda estamos trabalhando com um efetivo que não atende à demanda porque a carência era antiga e grande. Vamos fazer um estudo para saber o déficit de policiais no Estado, inclusive com base nos parâmetros recomendados pela ONU – que estabelece o número de policial ideal para cada grupo de habitantes – e em outros aspectos como a criminalidade em cada local, levando em conta inclusive o impacto que isso vai gerar na folha de pagamento. O governo gostaria de ter um número maior de policiais, de pagar melhor aos seus policiais, mas há uma limitação orçamentária.
– Quais os projetos para o Corpo de Bombeiros?
– Conversei com o comandante Pedro Luís e solicitei a ele um levantamento da situação do Corpo de Bombeiros da Paraíba, que deverá ser entregue até o dia 15 de abril. O relato verbal do comandante é de que o Corpo de Bombeiros está bem equipado.
– E para o IPC?
– O IPC é responsável pela produção das provas técnicas, que, teoricamente, são as mais relevantes em um processo. O Instituto de Polícia Científica é fundamental e o diretor me disse que o IPC está um ‘caco’. Da última vez que fui lá, foi quando morreu um delegado da Polícia Federal, há quatro anos. Naquela época, fiquei enojado com o DML e o diretor do IPC me disse que a situação está pior atualmente. Ainda não tive tempo de ir ao local. Pedi para que o diretor do IPC fizesse um relatório sobre a situação do órgão e vou tentar, junto à Senasp, recursos para reformar o IPC. Os equipamentos que lá se encontram são de última geração e os peritos são capacitados. O problema está nas instalações físicas.
– Um dos crimes que vem aumentando em todo o País é o cibernético, o praticado na internet. O senhor pretende criar uma delegacia especializada para combater os crimes cibernéticos na Paraíba?
– A Polícia Federal começou a investigar esse tipo de crime através da Delegacia Fazendária. Com o tempo, foi criada a Divisão de Crimes Financeiros. Infelizmente, criaram a divisão nos grandes centros, como o Rio de Janeiro e São Paulo. A Paraíba, por exemplo, não dispõe de uma divisão, por isso especializamos um delegado para investigar esse tipo de crime. Na Paraíba, em tese, a Delegacia de Defraudações é a indicada para investigar esse tipo de crime. Mas, poderemos estudar a possibilidade de criar uma delegacia especializada ou um setor especializado dentro da Delegacia de Defraudações nessa área e capacitar as pessoas para atuar no combate a esse tipo de crime.
– O que será feito em relação aos maus policiais e como pretende combater a corrupção policial?
– Encontrei uma Corregedoria inoperante e darei prioridade absoluta à Corregedoria e ao serviço de inteligência da polícia. Tenho como projeto extinguir as corregedorias da Polícia Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros para unificar a corregedoria, que passará a funcionar na própria Secretaria de Segurança Pública. Ela será formada por um policial hierarquicamente superior, por uma pessoa limpa que terá uma equipe para trabalhar. Vou estudar os nomes de que disponho para esse cargo. Não vou admitir desvio de conduta! É preciso extirpar os maus policiais!


Cristina Fernandes

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